Em entrevista ao Diálogos ObservInfo, os pesquisadores do Observatório de Ética Jornalística – ObjETHOS (UFSC), Rogério Christofoletti e Samuel Lima, falam sobre o Código de ética da categoria, a necessidade da autocrítica, da aproximação com o público e da responsabilidade pedagógica da profissão

 

Por Nathália Coelho

 

 

 

 

Dentro dos complexos ecossistemas de desinformação existentes hoje, há uma oportunidade de aproximar jornalismo e público. Esta é uma afirmação do pesquisador e professor Dr. Rogério Christofoletti, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em entrevista ao episódio 2 do Diálogos ObservInfo, lançado nesta segunda-feira (03). Além de Christofoletti, o programa contou ainda com a participação do prof. Dr. Samuel Lima, ambos do grupo de pesquisa e extensão Observatório de Ética Jornalística, o ObjETHOS.

 

“O público, na grande maioria das vezes, não sabe como é que funciona o Jornalismo. E é natural (...) a gente, por exemplo que não é da área da saúde, não sabe como é, como funciona um hospital, como é a gestão de um hospital. Só que o jornalismo entra na vida das pessoas. Ele afeta a vida das pessoas. Então essa é uma oportunidade para gente explicar como é que se faz jornalismo”, explica Christofoletti.

 

Entender como as notícias nascem, o relacionamento com as fontes, os dilemas, as responsabilidades e os problemas enfrentados cotidianamente pela imprensa está diretamente relacionado ao conhecimento do Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros, tanto pelos profissionais quanto para o público.

 

Para os pesquisadores, um público capaz de compreender os bastidores do jornalismo, as melhores práticas e condutas pode se familiarizar com um universo até então distante, de modo que confie e tenha cada vez mais senso crítico diante do trabalho da imprensa e seja, por consequência, cada vez menos seduzido pela desinformação.  

 

O atual Código de Ética da categoria é de 2007. De lá para cá, aponta Lima, são 14 anos de transformações nos saberes e fazeres jornalísticos, além das mudanças na comunicação e sociedade como um todo, sobretudo com a ascensão da internet e mídias sociais. Segundo Lima, infelizmente o fenômeno “dá guarida para a indústria da fraude e da mentira como estratégia de poder.”

 

 “O impacto da tecnologia, a ubiquidade, como nos relacionamos com fake news, com plataformas digitais que configuram esse oligopólio. De 2007, quando a gente aprovou esse código no congresso que foi realizado (...) o Facebook tinha acabado de ser lançado, em 2004”, detalha.

 

Neste sentido, para os pesquisadores, discussões sobre o Código de Ética no âmbito da comunidade jornalística – incluindo prática e academia – são importantes para fortalecê-lo, não o contrário. Sem contar que, como diz Lima, “uma prática funcional que respeite o código de ética contribui sim decisivamente para a qualidade da informação, não há dúvida disso”.

 

Código de Ética: entre riqueza e ruína

 

Para o Christofoletti, além da disseminação e do esclarecimento do Código pela Universidade, Sindicatos e Federação é preciso levar a discussão para o cotidiano profissional.  “Isso pode ser na mesa do bar, no cafezinho, falando mal do Chefe. Quer dizer... isso precisa estar de uma maneira orgânica na vida das pessoas, para que haja esse sentimento de que ‘olha, o Jornalismo é resultado das minhas práticas.’ Então se eu não ando bem, o jornalismo também vai ser afetado por isso’”, explica.

 

Lima também afirma que é necessário um movimento de repactuação para as promessas seculares do jornalismo, que tem a ver com defesa das liberdades, sobretudo a liberdade de expressão, a defesa da democracia e da verdade não só pelos profissionais, mas também pelas empresas.

 

“Acho que a crise maior, a crise, digamos, que atinge o Jornalismo do ponto de vista dessa questão da verdade, da veracidade das informações, das notícias e tal está dentro de um contexto maior de crise que envolve o conhecimento científico colocado em xeque pelo movimento antivacina, terraplanismo, por aí a fora”.

 

Projeto de Educação Midiática

 

Barrar o avanço do negacionismo é também uma missão do jornalismo, à medida em que se propõe uma autocrítica, como o trabalho dos observatórios de imprensa, por exemplo, e assume a consciência pedagógica de educar o seu público.

 

De 2017 a 2019, o prof. Samuel Lima coordenou um projeto de Educação para Mídia para 412 alunos de 10 escolas da Região Metropolitana da Grande Florianópolis. A ideia era despertar os estudantes para os assuntos envolvendo a mídia e a cobertura jornalística, a partir da noção de diálogo de Paulo Freire.

 

“A gente procurava trabalhar o máximo a dinâmica que envolvia as estudantes na discussão a partir da sua trajetória, da sua cultura, da sua formação, da sua história de vida, para que eles pudessem desenvolver o seu próprio senso crítico em relação às notícias, em relação à mídia e já estava de muito bom tamanho”, explica.

 

O projeto acabou parado durante a pandemia, mas é possível retornar neste ano de 2022. Para saber mais detalhes dessa conversa com Rogério Christofoletti e Samuel Lima, assista ao vídeo completo.

 

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