Na primeira parte do Episódio 4 do Diálogos ObservInfo, o jornalista e cientista político Leonardo Sakamoto promove uma série de reflexões sobre a internet e o fenômeno contemporâneo da desinformação

 

Por Nathália Coelho

 

 

As primeiras décadas relacionadas ao advento de uma nova tecnologia de comunicação são de caos, até que a sociedade esteja plenamente adaptada, domine ou entenda o significado daquilo. A afirmação é do jornalista, cientista político e professor do Departamento de Jornalismo da PUC/SP, Leonardo Sakamoto. 

 

Neste sentido, desde a revolução de Gutemberg - com os materiais impressos – à internet, a humanidade passou por períodos conturbados junto aos meios. E o fenômeno contemporâneo da desinformação pode ser um sintoma desse processo paulatino de adaptação das mídias online, desde o final do século XX.

 

“De repente elas [as pessoas] tiveram acesso a uma tecnologia que garantia muita coisa, mas sem uma discussão ética sobre o que fazer com isso”, reitera. Para Sakamoto, a sociedade demorou a compreender que o uso da internet não representava apenas avanços ou democratização de voz, mas também retrocessos e crimes a depender das intenções de uso.

 

O jornalista explica que os poderes da internet exigem grandes responsabilidades dos seus usuários. No entanto “as pessoas compartilham informação loucamente não porque elas acham que é importante porque isso pode ajudar na democracia, na comunidade ou em alguma coisa, mas porque elas querem ganhar likes, porque o like é um lugar quentinho (...) porque significa que você está sendo validado e abraçado coletivamente por aquilo que está postando. Inclusive é uma assertiva da sua participação na comunidade”.

 

Segundo Sakamoto, pensar soluções em torno da educação para mídia, entretanto, demanda um esforço coletivo de conscientização, num primeiro momento, da importância desse processo de aprendizagem e, em seguida, um reforço para a manutenção e defesa dos direitos humanos.  

 

“Toda vez que você fala de educação para mídia muita gente começa a gritar: ‘ah, querendo dizer o que é certo e o que é errado’, querendo tolher a liberdade das pessoas. Não. É o contrário. É você saber, entender, ter critérios, capacidade crítica para poder filtrar aquilo que você lê, sabendo o que é fato e o que não é fato. O que merece e o que não merece ser compartilhado. E você ter a capacidade, discernimento do que deve ser produzido e enviado para terceiros”, reforça.

 

Sakamoto afirma ainda que ações educativas em torno da mídia são importantes para alunos desde a educação básica ao ensino superior, mas outras instituições – como o trabalho, a saúde, a igreja – também deveriam se engajar, uma vez que são responsáveis por passar uma visão da realidade para a sociedade.

 

 “Só que o grande problema é que muitas dessas instituições estão diretamente envolvidas com a disseminação de notícias falsas. (...) Acaba sobrando para escola e para o próprio jornalismo lutar contra isso”, finaliza.

 

O que aprendi sendo xingado na internet

 

O próprio Sakamoto foi alvo de discursos de ódio e de notícias falsas na internet durante os anos de 2010. Em resposta, o jornalista decidiu escrever um livro com uma linguagem fácil e simples que pudesse atingir um amplo público, a fim de promover reflexões sobre o quão tóxico poderia ser o ambiente online e como se mover nele.

 

Assim nasceu em 2016, pela editora Leya, O que aprendi sendo xingado na internet. “Acredito que o livro tem o mérito de abrir um debate num momento em que todo mundo ainda via a internet como uma coisa linda e maravilhosa e que ficava surpreso quando uma coisa negativa acontecia”, concluiu.

 

A nossa entrevista com Leonardo Sakamoto não para por aqui. Fique ligado em nossas redes sociais, pois no dia 15 de março publicaremos a parte 2 dessa conversa. Sakamoto falará sobre internet, combate à desinformação e responsabilização das plataformas, sobretudo em ano eleitoral.

 

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