Dentre outros fatores, Marcelle Chagas quer entender como se dá o fluxo de desinformação científica em comunidades do Rio de Janeiro, bem como o impacto da atuação de jornais comunitários para os moradores, tomando como ponto de partida as experiências do primeiro ano da pandemia do COVID-19

 

Por Nathália Coelho

 

Embora a desinformação seja um fenômeno universal contemporâneo, o modo e o impacto da sua divulgação podem ser analisados sob óticas específicas, que envolvem recortes, por exemplo, de territórios. Essa é uma premissa da pesquisa da jornalista e mestranda da Universidade Federal Fluminense (UFF) Marcelle Chagas, nossa convidada do sexto episódio do Diálogos ObservInfo.

 

Chagas decidiu investigar a propagação de fake news e fake Science (“notícias falsas” sobre ciências e saúde) em áreas de vulnerabilidade do Rio de Janeiro. A pesquisadora revela que a pandemia do COVID-19 pôde evidenciar o quanto tais comunidades estão expostas a proliferação de doenças e, consequentemente a riscos de saúde, em função de fatores ambientais e sociais, tais como poucos investimentos em saneamento básico, desmoronamento de encosta, alta densidade populacional, inadequação das moradias.

 

Nesse sentido, a proliferação de fake news se transforma em um novo perigo. “Eu passei a investigar como foi e como tem sido dentro dessas regiões o impacto desse processo que se desenvolveu no ápice da pandemia, sendo considerada pela OMS infodemia, o excesso de circulação de informação sobre o mesmo tema”, reitera.

 

Chagas ainda afirma que se somou à situação o fato de a população ter pouco acesso a saúde pública e que, no período do “fique em casa”, essa mesma população precisava sair para manter seus empregos ficando cada mais vulnerável ao vírus.

 

“As próprias comunidades começaram a se mobilizar justamente para tentar levar informações confiáveis e trazer para a população, como um todo, informações também sobre os números e o que estava acontecendo”, explica.

 

Aqui, entra, por exemplo, ações dos jornais comunitários Voz das Comunidades, que desenvolveu um Painel Covid-19 nas Favelas, atuando como fontes também para a imprensa e promovendo ações de combate à desinformação. Ou o Painel Unificador Covid19 nas Favelas do Rio de Janeiro, desenvolvido pela Fiocruz, Redes da Maré e outros coletivos, com dados específicos das comunidades.

 

Nasce, nesse sentido, segundo Chagas, “a necessidade de entender como funciona esse fluxo, essa circulação de informação científica nessas comunidades, a atuação desses veículos e o impacto disso. Eu observo pela covid, mas isso pode se estender para outras pandemias”, conclui.  

 

Observatório de Gênero, Raça e Territorialidades (GeRaTe)

 

Para tirar os planos de pesquisa do papel, Marcelle Chagas conversou com a orientadora, a professora Thaiane Moreira de Oliveira (UFF) sobre a necessidade de criar metodologias específicas que pudessem auxiliar na observância de como as variáveis de território, raça e gênero impactavam o fluxo de informação e desinformação científica nas comunidades.

 

Assim surgiu o GeRaTe - Observatório denero, Raça e Territorialidades. “O GeRaTe vem para criticar essas desigualdades estruturais de gênero, raça e território, para apoiar formulação de políticas públicas. Ele vem levantar dados, trazer à tona essas informações, para que sejam formuladas ações a partir disso. E vem promover o conhecimento científico e inovações de relacionamento com os territórios”, diz Chagas.

 

A ideia é fazer uma análise do fluxo de circulação de informação e desinformação científica, além do reconhecimento da autoridade epistêmica dentro das localidades, primeiro pela coleta de dados por meio de um formulário e, em seguida, na realização de conversas com moradores participantes de grupos focais.

“É interessante entender, pra essas pessoas, quem eles reconhecem como autoridade. É o jornalista, é o divulgador científico, é o médico, é o influenciador digital, é o jornalista que escreve para o veículo da localidade? Dali da periferia? É o líder religioso?”, indaga.

 

Uma das hipóteses da pesquisadora, inclusive, aponta para a importância do jornalismo comunitário desenvolvido nas comunidades. “Acredito que eles tenham tido sim um papel determinante, um papel fundamental principalmente durante o ápice da pandemia. Ainda estou desenvolvendo, mas a gente vai entrar mesmo para entender isso do ponto de vista dos moradores.”

 

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